Não posso negar: sou admirador de Jesus, por suas palavras e por sua sabedoria universal. Livre de preconceitos, adepto do amor primordial, Jesus, com toda certeza, foi um dos maiores mestres que o mundo conheceu.
Não sou cristão, e nem Jesus, porque o cristianismo foi criado pelos homens depois de sua morte. Sou pagão e acredito que Jesus também era um pouco pagão. Sim. Para quem não conhece nada sobre paganismo, o termo nada mais significa do que a palavra em latim "paganus" = aquele que mora no pago, no campo. Assim eram conhecidas as pessoas que celebravam seus deuses em meio à natureza. E por causa da Igreja o termo acabou se tornando pejorativo, sinônimo de quem não crê em Deus. Alguns até acreditam se tratar de quem adora o demônio. Não é verdade. Os pagãos acreditam em sua Divindade, Deus ou Deusa. Respeitam e amam toda forma de vida. Não realizam sacrifícios aos deuses e nem acreditam no demônio. Para eles, esse ser não existe. Eu sei porque sou pagão. E pelo que me lembro, nunca matei ninguém, muito menos em nome dos deuses e nunca adorei Satanás. Aliás, acho que ele não passa de uma invenção dos homens para aprisionar a alma dos mais ingênuos a um templo frio, feito de pedra, onde muitos costumam dizer ser o único lugar onde Deus habita e onde pode ser encontrado.
Mas, me estendi demais nesse prólogo. Apenas quis justificar aos amigos pagãos o motivo de minha admiração por Jesus, já que muitos não apreciam este mestre ou suas palavras (e têm meu absoluto respeito por isso). Na verdade, eu acredito que todo bom pagão já leu, pelo menos uma vez, a Bíblia. Sim, porque ao contrário da mente hipócrita que habita o mundo, o pagão procura conhecer antes de falar, enriquece a mente e retira do que aprende aquilo que é bom para ele. A Bíblia contém diversos textos de enorme sabedoria e grandeza. É claro que muita coisa foi alterada, como verdades sobre a reencarnação (retirada por Constantino), o Amor de Cristo por Madalena (presente nos Evangelhos Apócrifos, que recomendo).
Mas quem ler com atenção encontrará nas entrelinhas muita coisa que os "sábios" esqueceram de retirar. Como a parte onde Elias retorna como João Batista, sobre as palavras de Jesus dizendo "EU SOU o caminho". EU SOU é um termo muito utilizado na Fraternidade dos Sete Raios, a Fraternidade Branca, que declara a afirmação EU SOU, como manifestação do EU Verdadeiro e Superior. Também é possível encontrar muitos textos sábios, e até mesmo de "auto-ajuda", em alguns trechos da Bíblia. Salomão fala sobre isso quando nos dá o conselho: "Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais (a) Deus(a) te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Porém, se o homem viver muitos anos e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade. Afasta, pois, a ira do teu coração e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidades". Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
Ou a parte onde Jesus nos fala para vivermos sem preocupação, pois, diz ele, "Não vos preocupeis demais com o vosso sustento. Vede as aves do céu: elas não semeiam, não colhem, nem juntam no celeiro; mas o vosso Pai (Mãe) celeste as sustenta. Acaso vós não valeis muito mais do que elas? Não vos inquieteis com o que haveis de vestir. Vede como crescem os lírios do campo: não trabalham, nem fiam. Contudo eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como um deles. Não vos aflijais, dizendo: Que haveremos de comer ou de beber? Com que havemos de nos vestir? O vosso Pai do céu sabe que precisais de tudo isso".
Lembrei-me também de uma passagem onde Jesus dizia a um homem que desejava segui-lo, que se ele voltasse para se despedir de sua família não era digno de seguí-lo e nem do Reino de Deus. Na verdade, esse texto foi escrito em parábolas pelo próprio autor (que gostaria de saber quem foi), e refere-se perfeitamente a todos os objetivos que temos na vida: "Quero emagrecer, mas só hoje vou comer de tudo. Pela última vez!", e esse dia prossegue, sem que você perceba, por meses a fio. "Preciso me desculpar com aquela pessoa. Vou ligar para ela, agora. Ah, talvez amanhã seja um dia melhor para ligar"; então você pensa em tudo o que ela fez, renova sua cota de rancor e desiste da ligação. "Vou fazer uma limpeza geral em casa e me desfazer de tudo o que não preciso", mas fazendo a faxina você lembra do passado, presente em cada objeto, acredita que um dia ainda irá utilizar a maioria deles e termina mantendo a casa entulhada como antes. E assim prosseguimos, nunca realizando nossos objetivos, sempre deixando para amanhã, nos apegando à nossa inércia, movidos pelo passado que nos aprisiona. O passado serve apenas para uma coisa: tirar as lições necessárias para se aplicar no presente.
Isso tudo pode ser tirado de palavras de Jesus e da Bíblia. Eu pergunto: por acaso não há sabedoria nessas palavras? Por acaso as palavras de Jesus não eram cheias de amor? Acredito que as palavras eram sinceras, sábias e para todos. Acredito que ele nunca, jamais, falou algo sobre inferno, danação, pecado. Isso foram coisas inseridas pelos homens. Pois Jesus sabia que nada disso existia. Jesus era feito de Amor puro. Para tudo, para todos.
Pagão, cristão ou o quê? Seja o termo que utilizemos para este sábio homem, uma coisa é certa: ele era livre de rótulos. E creio que ele (e eu me incluo aqui) jamais se preocupou com isso. Pois o Amor não se preocupa. Ele vive. Ele ama. Ele é, segundo as palavras de minha esposa, "o principal ingrediente do Universo".
Lisandro
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